Professores e adolescentes na era digital: reflexões urgentes

O papel dos professores e adolescentes na era digital e os alertas da série Adolescência

Professores e adolescentes na era digital convivem diariamente com os efeitos colaterais das redes sociais. A série Adolescência, da Netflix, escancara essas feridas, mas pouco se fala sobre quem lida com elas de perto: o professor. É preciso refletir sobre como esses profissionais podem ser agentes ativos diante dos desafios emocionais e comportamentais que surgem em sala de aula. Muito já se falou sobre a série Adolescência, da Netflix, especialmente entre pais e psicólogos. Contudo, pouco se discutiu de forma profunda com quem está na linha de frente da convivência diária com os adolescentes: os professores. É na sala de aula que os efeitos colaterais da era digital aparecem com mais força — na apatia, na agressividade, nas ausências silenciosas, nos olhares perdidos atrás de telas. A série expõe, com frieza e realismo, como o ambiente digital se infiltra nas subjetividades adolescentes. Mas o que ela ainda não disse — e o que nós precisamos dizer — é que o professor também é afetado por tudo isso e precisa ser parte ativa na construção de respostas.

Muito além do conteúdo: o professor como educador digital

O docente do século XXI não ensina apenas conteúdos curriculares. Ele media conflitos emocionais, orienta comportamentos e, muitas vezes, atua como ponto de apoio emocional para alunos que vivem dramas silenciosos — muitos deles ampliados pelas redes sociais. A série revela adolescentes mergulhados em solidão, vaidade exacerbada, medo de rejeição e confusão identitária. Para o professor, isso não é novidade. O que muda é a velocidade e intensidade com que essas questões emergem, impulsionadas por algoritmos que manipulam emoções e promovem dependência.

Alertas que a escola precisa ouvir

    1. Alunos estão vivendo “duas vidas”: uma presencial e outra digital, muitas vezes contraditórias. O professor precisa desenvolver escuta ativa para perceber as mensagens que não são ditas com palavras.
    1. Os conflitos extrapolam os muros da escola: desentendimentos no WhatsApp da turma, “exposição” no Instagram, fake news circulando entre alunos — tudo isso volta para a sala de aula como tensão, dispersão ou sofrimento.
    1. O Bullying ganhou nova dimensão: não termina ao final do turno escolar. A perseguição continua no ambiente online, 24 horas por dia, e a escola precisa criar canais de acolhimento e denúncia.
    1. Há temas urgentes que precisam ser debatidos: cultura do cancelamento, autoestima digital, hiperexposição, privacidade e limites na internet. São temas curriculares da formação humana e precisam ser abordados nas aulas, nas rodas de conversa e nos projetos pedagógicos.

O que os professores podem (e devem) fazer

    • Formar-se continuamente em cidadania digital: não se trata de dominar a tecnologia, mas de entender sua influência na formação dos sujeitos.
    • Criar espaços de escuta e diálogo: oficinas, rodas de conversa, projetos interdisciplinares que promovam o pensamento crítico sobre o uso da internet.
    • Atuar em parceria com as famílias: professores podem (e devem) chamar os pais para a conversa, orientando e acolhendo, sem julgamento.
    • Ser exemplo de comportamento digital ético: o educador também está nas redes. Seu posicionamento, postura e linguagem comunicam valores.

A série é um retrato. A escola precisa ser resposta.

Adolescência nos mostra um espelho desconfortável. A escola não pode mais ser um território alheio às vivências digitais dos alunos. Professores, mais do que nunca, são agentes de transformação — não apenas no campo da aprendizagem formal, mas na formação de sujeitos críticos, empáticos e conscientes de sua presença no mundo real e virtual. A relação entre professores e adolescentes na era digital precisa ser reconfigurada com base em vínculos, ética e responsabilidade compartilhada. A pergunta que fica não é “o que os adolescentes estão vivendo?”, mas sim: “o que nós, como educadores, estamos fazendo com o que sabemos que eles estão vivendo?”

Recommended Posts