Das grandes revoluções que foram acompanhando o processo de evolução da humanidade desde a descoberta da agricultura, a invenção da roda e a Revolução Industrial, parece que invenção da tecnologia é a que mais trouxe novas revoluções porque ela afetou todas as outras. Na 1ª Revolução Industrial, substituímos o músculo do Homem pelo “músculo” das máquinas, o carvão foi inserido como fonte de energia em muitas atividades mecânicas e elas foram proporcionando mudanças no ser humano. A segunda revolução industrial, ampliou a produção, inseriu o aço e novas fontes de energia como petróleo. A terceira revolução industrial foi marcada pelo surgimento dos equipamentos eletrônicos, telecomunicação e computadores. A energia nuclear foi descoberta e utilizada. E há quem diga que estamos vivendo a quarta revolução industrial em que o ser humano já é desnecessário na indústria.
Então para que estamos educando, se até então estávamos numa escola que foi formata para formar pessoas para o mercado de trabalho.
A evolução tecnológica tem impulsionado a humanidade a patamares nunca antes imaginados, permitindo-nos transcender limitações físicas, biológicas e cognitivas. Nesse contexto, o
transumanismo emerge como um movimento filosófico e científico que propõe a utilização de tecnologias avançadas para melhorar as capacidades humanas. Contudo, uma das maiores discussões do transumanismo envolve o próprio conceito do que significa ser humano. O uso de tecnologias que alteram o corpo ou o cérebro pode levar a uma redefinição profunda da identidade humana, levantando questões sobre a natureza da consciência, identidade pessoal, e humanidade.
Certamente que as máquinas são mais rápidas, mais resistentes e mais precisas. Um computador consegue realizar cálculos complexos em menos de um segundo e pode repetir essa tarefa infinitamente (muitas vezes, simultaneamente), sem precisar de descanso e sem cometer erros. Naturalmente, essas “mentes mecânicas” vão avançar de forma extremamente acelerada na
Era Digital, na qual estamos vivendo. Esse avanço ocorre, principalmente, com o desenvolvimento da
Inteligência Artificial e do
Machine Learning. Essas são novidades que
mudam completamente o paradigma sobre o qual se desenvolvem as experiências do Homem com as máquinas.
Já entendemos que o transumanismo é uma corrente de pensamento que defende a aplicação da ciência e da tecnologia para aprimorar as capacidades humanas, superando as limitações impostas pela biologia natural. Transumanistas acreditam que tecnologias como a engenharia genética, a inteligência artificial, e a cibernética podem ser usadas para aumentar a longevidade, melhorar a saúde, e expandir as capacidades mentais e físicas dos indivíduos.
Até aí, tudo certo. Mas para que a humanidade precisa de longevidade se não houver humanidade?
A engenharia genética, por exemplo, permite a modificação do DNA para eliminar doenças hereditárias e potencialmente aumentar habilidades físicas e intelectuais. Implantes cibernéticos podem substituir membros perdidos ou amplificar capacidades sensoriais. A inteligência artificial pode ser integrada aos sistemas cognitivos humanos, proporcionando uma maior capacidade de processamento de informações e tomada de decisões. Essas tecnologias têm o potencial de mudar radicalmente a forma como interagimos com o mundo e como nos percebemos.
Se, ao ser humano for negada a possibilidade de pensar, interagir, discutir ideias e construir conhecimentos, de que adianta a longevidade? E mais, para que serve a Educação?
A redefinição da identidade pessoal
Com a introdução dessas tecnologias, surge a questão de como elas afetam a identidade pessoal. Se uma pessoa modifica seu corpo ou cérebro de maneiras significativas, ainda pode ser considerada a mesma pessoa? A continuidade da consciência e da identidade ao longo dessas transformações é um ponto central de debate. A identidade pessoal é tradicionalmente vista como uma combinação de características físicas e mentais que permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo. No entanto, com alterações tecnológicas profundas, essa estabilidade pode ser desafiada.
A natureza da consciência
A consciência é outro aspecto crucial na discussão sobre o que significa ser humano. Com a implementação de tecnologias que podem potencialmente alterar ou expandir a consciência, surge a questão de como definimos e entendemos essa experiência subjetiva. A consciência é geralmente descrita como o estado de estar ciente e capaz de perceber e fazer julgamentos sobre o ambiente e si mesmo. Tecnologias que permitem o aumento ou alteração da consciência podem levar a novas formas de experiência e percepção, desafiando nossas noções tradicionais sobre o que significa estar consciente.
Implicações éticas e filosóficas
Além das questões práticas, o transumanismo levanta uma série de preocupações éticas e filosóficas. A modificação do corpo e da mente humanos pode levar a desigualdades sociais, já que nem todos terão acesso às mesmas tecnologias. Isso pode resultar em uma divisão entre os “humanos melhorados” e os “humanos naturais”, com conseqüências significativas para a justiça social e a igualdade.
Questões de identidade e autovalorização
A alteração da identidade pessoal também pode levar a questões profundas de autovalorização e aceitação. Se parte do que nos torna humanos é nossa vulnerabilidade e imperfeição, o que acontece quando essas características são eliminadas ou minimizadas? A busca pela perfeição pode levar a uma diminuição da apreciação por nossas qualidades únicas e individuais.
O papel da humanidade no futuro
A redefinição do que significa ser humano também afeta a forma como percebemos nosso papel no futuro. Com capacidades aumentadas, podemos nos ver como seres destinados a superar todas as limitações e conquistar novos territórios de existência e conhecimento. No entanto, essa visão pode ser acompanhada por uma perda de conexão com nossas raízes e tradições, transformando a natureza fundamental da humanidade.
Conclusão
A discussão sobre o que significa ser humano no contexto do transumanismo é complexa, multifacetada e precisa começar na escola. As tecnologias que alteram o corpo e o cérebro têm o potencial de transformar radicalmente nossa identidade, consciência, e humanidade. É essencial abordar essas questões com cuidado e consideração, levando em conta as implicações éticas, filosóficas, e sociais. Apenas assim podemos navegar os desafios e oportunidades que o futuro tecnológico apresenta, garantindo que a redefinição do que significa ser humano seja feita de maneira que respeite nossa essência e valores fundamentais e para que a escola tenha parâmetros para seguir sua missão.